Terminou ontem a 43ª edição da Copa América, a maior competição de selecções na América do Sul, realizada na Argentina.
Foi, à "vista desarmada", uma das edições mais fracas deste prestigiado troféu. Mas esta constatação é algo que merece uma introspecção mais pormenorizada e repensada. Porquê? Primeiro, uma competição em que dois colossos como Brasil e Argentina são eliminados logo na 2ª ronda é merecedora de destaque. Segundo, o novo campeão, o Uruguai, acaba por ganhar a competição com um conjunto de bons jogadores que transitaram do Mundial da África do Sul, onde alcançaram um impensável quarto lugar, provando que os seus feitos não foram obra do acaso, mas antes provenientes de um trabalho contínuo do seleccionador Oscar Tabárez, que conseguiu transformar uma amálgama de talentos numa Equipa (sim, com "E" maiúsculo) consistente e consciente (os 'celeste' tornaram-se a selecção com mais títulos da História do futebol). Terceiro, as surpresas que representaram as selecções do Peru e da Venezuela elevaram ainda mais um valor que deve ser absolutamente respeitado no futebol actual: nunca subestimar o adversário, por mais débil que ele possa parecer. E quarto, o Paraguai chegou à final com o Uruguai sem ter vencido uma única partida no tempo regulamentar, empatando na fase de grupos com Equador, Brasil e Venezuela e vencendo os jogos de 'mata-mata' no desempate por grandes penalidades.
Mas o que salta realmente à vista nesta edição são as eliminações prematuras de Brasil e Argentina. Os eternos rivais desiludiram o Planeta Futebol e jogaram sempre em baixa rotação. De onde derivam estas anomalias futebolísticas encontradas na Copa?
O futebol sul-americano foi quase sempre caracterizado por uma certa "anarquia táctica", onde não havia posições rigorosamente definidas em campo. Mano Menezes, depois de anos e anos a treinar no Brasileirão chegou à selecção 'canarinha', desmontou o futebol automatizado e "europeu" de Dunga e devolveu-lhe o estilo "joga bonito", com uma fornada de jovens caracterizada por pouca maturidade. A linha defensiva manteve-se relativamente forte, mas a confusão gerada na frente de ataque por esta imaturidade resultou na falta de eficácia e pouca clarividência para pensar numa manobra ofensiva organizada (Pato, Neymar, Robinho e Ganso chocaram quase sempre durante os jogos, deixando o Brasil desequilibrado e sem uma verdadeira referência atacante). A Argentina, com Sergio Batista no banco, quis dotar o meio-campo de músculo e capacidade de choque (Mascherano, Cambiasso, Gago e Banega são todos de carácter lutador) para libertar as suas estrelas de tarefas defensivas; o resultado foi o mesmo verificado na selecção brasileira: Aguero, Tévez e Messi (ressente-se demasiado da falta de Xavi e Iniesta) não revelaram o entendimento desejado e a 'equipa das pampas' fracassou. Ficou provado que a desordem atacante brasileira e argentina já não se encaixam nos mandamentos do futebol moderno, onde a rigorosidade táctica impera e a organização é um 'must have'. Expoentes que foram colocados em prática pelos desfavorecidos Peru, Venezuela e Paraguai, na tentativa de arranjar um "disfarce" para a falta de talento dos seus jogadores.
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Neymar e a 'canarinha' só voltarão a ser felizes quando definirem prioridades organizacionais no futebol da sua selecção |
A conclusão a retirar é que a "anarquia táctica" encontra-se mergulhada nas profundezas da esfera futebolística actual e esta Copa América foi, possivelmente, o marco temporal que definiu o seu fim, apoiado pela decadência dos colossos sul-americanos, onde se augura uma mudança radical na filosofia táctica e na formação dos seus atletas. São factores que exigem um processo longo de adaptação às novas exigências do jogo, mas que deverá ter os seus frutos, já que a matéria-prima está lá, faltando a introdução de novos valores fundamentais para o sucesso no pensamento dos atletas.
P.S. - Larissa Riquelme voltou a marcar presença nas bancadas em forte apoio aos 'guarani', a selecção paraguaia. Chegaram à final, mas o seu futebol excessivamente "amarrado" foi incapaz de levar de vencida o Uruguai. Larissa não se despiu. Justiça poética? Talvez, mas simultaneamente infortúnio para a massa adepta masculina.
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Larissa já se tornou uma figura incontornável no apoio ao Paraguai |
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