Há os jogadores que são eclipsados e aqueles
que se eclipsam. Os primeiros são de um tipo bastante comum e que já ostentam
consigo esse rótulo. São aqueles futebolistas que brilham em equipas de segundo
plano, que fazem as delícias dos adeptos e que marcam oito ou nove golos por
temporada, tornando-se nos principais responsáveis pela manutenção do clube na
primeira divisão ou pela ida a uma competição europeia. Exemplos? Kléber,
Makukula e Michael Owen. O primeiro foi transferido do Marítimo para o FC Porto
para ser a sombra de Falcao, mas, quando este último fez as malas para Madrid,
viu-se obrigado a assumir as despesas da finalização na casa ‘azul-e-branca’,
sem sucesso. Makukula foi do mesmo clube insular para o Benfica e seis meses
depois estava na Turquia. Já Owen, assinou pelo Manchester United após vários
anos a desfeitear guarda-redes em St. James Park. Desapareceram do mapa e agora
estão na sombra de estrelas mais cintilantes (Janko, Cardozo e Nuno Gomes (na
altura) e Rooney, Welbeck e Chicharito). No fundo, trocaram carinho por contas
bancárias mais recheadas e as suas carreiras estagnaram e, com elas, projectos
futuros foram eclipsados.
Depois há os do segundo tipo. Normalmente, são
contratados a peso de ouro por equipas de topo para serem a referência ofensiva
da equipa, a máquina de fazer golos. Deles se esperam proezas nunca antes
vistas e o reviver de glórias há muito esquecidas. Mas, o inesperado acontece:
o seu rendimento roça o zero e os golos não surgem. Assim sucedeu com Luís
Fabiano no Porto, Podolski no Bayern de Munique e agora acontece com ‘El Niño’
Fernando Torres no Chelsea. Quais as razões para este eclipse super-mediático?
Não é um assunto que possa ser discutido de forma linear, e há muitos estudos e
opiniões distintas para explicar o caso do espanhol, mas há dois ou três
factores que pretendo explorar, que julgo serem a base para a falta de golos de
um jogador que custou 56 milhões de euros aos cofres de Roman Abramovich.
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Abramovich não foi feliz na contratação de 'El Niño' |
Observando as estatísticas, são 50 jogos de
Torres pelos ‘blues’ (desde Janeiro de 2011), distribuídos pelas várias
competições, e 5 golos marcados, sob a alçada de três treinadores diferentes
(Carlo Ancelotti, André Villas-Boas e agora Roberto Di Matteo). Isto resulta
numa média de um golo a cada dez jogos! Números inaceitáveis para um ponta-de-lança
titular na selecção campeã da Europa e do Mundo e de reconhecida classe
planetária. Quando ‘El Niño’ abandonou Anfield Road com o propósito de
enriquecer o seu palmarés com as cores do Chelsea, já sabia à partida que a
concorrência ia ser de peso. Drogba, Anelka e Kalou eram já nomes consagrados
no balneário de Stamford Bridge e Torres teria que trabalhar a dobrar para
conquistar um lugar no onze londrino. Esse obstáculo foi rapidamente
ultrapassado, já que Ancelotti não hesitou em dar logo a titularidade ao
reforço. Em contrapartida, o problema pode efectivamente ter começado aqui. A
pressão resultante da obrigação de ter que fazer golos e de igualar os registos
de Didier Drogba, principalmente. Um jogo sem marcar e as exigentes bancadas
começaram a assobiar o jogador. Dois jogos e a sua cabeça estava já a prémio.
No balneário, a desconfiança cresceu e, como não é segredo para ninguém, as “vacas
sagradas” do Chelsea (John Terry, Lampard e Drogba) começaram a expôr o seu
desconforto face à posição de Fernando Torres no plantel e à relação inversa
entre o seu estatuto e rendimento. Ora, este ‘cocktail’ de emoções e novas
realidades foi algo que o espanhol de 27 anos nunca tinha experienciado. Tanto
no Atlético de Madrid como no Liverpool, Torres foi sempre tratado como o ‘wonderboy’
e a paciência dos adeptos para com ele era inesgotável. No Chelsea isso teve um
fim. A margem de erro era mínima, face à fortuna paga pelo seu passe e nem a
saída de Anelka para a China veio melhorar a situação.
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Torres ainda não encontrou no Chelsea a fórmula de sucesso que o fez brilhar em Liverpool |
Hoje, a maré de azar continua, e a solução
ainda não foi encontrada. Quando André Villas-Boas ainda estava no Chelsea
sugeriu-se a transferência de Fernando Torres para o Atlético de Madrid, em
troca de Falcao, mas agora, com o português despedido, essa parece ser uma
hipótese remota. Algo tem de ser feito, sob pena do futebol perder um dos mais
brilhantes avançados da actualidade. E com o Europeu à porta, a situação de
Torres não se avizinha fácil. Perder um grande torneio é uma multa pesada para
um jogador deste calibre. A ver vamos…
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