domingo, 11 de março de 2012

O estranho caso de Fernando Torres

 Há os jogadores que são eclipsados e aqueles que se eclipsam. Os primeiros são de um tipo bastante comum e que já ostentam consigo esse rótulo. São aqueles futebolistas que brilham em equipas de segundo plano, que fazem as delícias dos adeptos e que marcam oito ou nove golos por temporada, tornando-se nos principais responsáveis pela manutenção do clube na primeira divisão ou pela ida a uma competição europeia. Exemplos? Kléber, Makukula e Michael Owen. O primeiro foi transferido do Marítimo para o FC Porto para ser a sombra de Falcao, mas, quando este último fez as malas para Madrid, viu-se obrigado a assumir as despesas da finalização na casa ‘azul-e-branca’, sem sucesso. Makukula foi do mesmo clube insular para o Benfica e seis meses depois estava na Turquia. Já Owen, assinou pelo Manchester United após vários anos a desfeitear guarda-redes em St. James Park. Desapareceram do mapa e agora estão na sombra de estrelas mais cintilantes (Janko, Cardozo e Nuno Gomes (na altura) e Rooney, Welbeck e Chicharito). No fundo, trocaram carinho por contas bancárias mais recheadas e as suas carreiras estagnaram e, com elas, projectos futuros foram eclipsados.
 Depois há os do segundo tipo. Normalmente, são contratados a peso de ouro por equipas de topo para serem a referência ofensiva da equipa, a máquina de fazer golos. Deles se esperam proezas nunca antes vistas e o reviver de glórias há muito esquecidas. Mas, o inesperado acontece: o seu rendimento roça o zero e os golos não surgem. Assim sucedeu com Luís Fabiano no Porto, Podolski no Bayern de Munique e agora acontece com ‘El Niño’ Fernando Torres no Chelsea. Quais as razões para este eclipse super-mediático? Não é um assunto que possa ser discutido de forma linear, e há muitos estudos e opiniões distintas para explicar o caso do espanhol, mas há dois ou três factores que pretendo explorar, que julgo serem a base para a falta de golos de um jogador que custou 56 milhões de euros aos cofres de Roman Abramovich.
Abramovich não foi feliz na contratação de 'El Niño'
 Observando as estatísticas, são 50 jogos de Torres pelos ‘blues’ (desde Janeiro de 2011), distribuídos pelas várias competições, e 5 golos marcados, sob a alçada de três treinadores diferentes (Carlo Ancelotti, André Villas-Boas e agora Roberto Di Matteo). Isto resulta numa média de um golo a cada dez jogos! Números inaceitáveis para um ponta-de-lança titular na selecção campeã da Europa e do Mundo e de reconhecida classe planetária. Quando ‘El Niño’ abandonou Anfield Road com o propósito de enriquecer o seu palmarés com as cores do Chelsea, já sabia à partida que a concorrência ia ser de peso. Drogba, Anelka e Kalou eram já nomes consagrados no balneário de Stamford Bridge e Torres teria que trabalhar a dobrar para conquistar um lugar no onze londrino. Esse obstáculo foi rapidamente ultrapassado, já que Ancelotti não hesitou em dar logo a titularidade ao reforço. Em contrapartida, o problema pode efectivamente ter começado aqui. A pressão resultante da obrigação de ter que fazer golos e de igualar os registos de Didier Drogba, principalmente. Um jogo sem marcar e as exigentes bancadas começaram a assobiar o jogador. Dois jogos e a sua cabeça estava já a prémio. No balneário, a desconfiança cresceu e, como não é segredo para ninguém, as “vacas sagradas” do Chelsea (John Terry, Lampard e Drogba) começaram a expôr o seu desconforto face à posição de Fernando Torres no plantel e à relação inversa entre o seu estatuto e rendimento. Ora, este ‘cocktail’ de emoções e novas realidades foi algo que o espanhol de 27 anos nunca tinha experienciado. Tanto no Atlético de Madrid como no Liverpool, Torres foi sempre tratado como o ‘wonderboy’ e a paciência dos adeptos para com ele era inesgotável. No Chelsea isso teve um fim. A margem de erro era mínima, face à fortuna paga pelo seu passe e nem a saída de Anelka para a China veio melhorar a situação.
Torres ainda não encontrou no Chelsea a fórmula de sucesso que o fez brilhar em Liverpool
 Hoje, a maré de azar continua, e a solução ainda não foi encontrada. Quando André Villas-Boas ainda estava no Chelsea sugeriu-se a transferência de Fernando Torres para o Atlético de Madrid, em troca de Falcao, mas agora, com o português despedido, essa parece ser uma hipótese remota. Algo tem de ser feito, sob pena do futebol perder um dos mais brilhantes avançados da actualidade. E com o Europeu à porta, a situação de Torres não se avizinha fácil. Perder um grande torneio é uma multa pesada para um jogador deste calibre. A ver vamos…

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