terça-feira, 24 de abril de 2012

Para além da imaginação...

 A essência da vida prende-se com a descoberta. Não saber para onde caminhamos, com quem vamos percorrer esse caminho hipotético e que desventuras vão marcar a nossa caminhada constituem as chaves fundamentais do sentido da nossa existência. O seu sentido concreto ainda não foi descoberto, nem será. Está muito para além da vontade, da compreensão e do conhecimento do ser humano. A ambição de o descobrir surge naturalmente no pensamento, mas eu diria que será correcto não a alimentar. Porque no dia em que a ambição ultrapassar o limite da racionalidade não serão encontradas respostas, mas sim um vazio, e aí, a existência deixará de fazer sentido. A ambição deve estar sempre presente, como complemento ao nosso quotidiano, mas para ser integrada na personalidade de cada um. E "cada um" é uma ínfima fração da conjuntura que é o Universo. Sermos nós próprios no Universo, ambicionarmos a mais e melhor para nós e para os outros, sem nunca perder a noção de individualidade, pois o meu indivíduo interior é o motor que me faz continuar a ter vontade de existir e sem ele não me vou sentir integrado na conjuntura; sem ele, sou um peso morto, amorfo, sem nada que me defina e perdido na diferença que os outros marcam ou vão marcando.
 Acima está um desabafo de índole abstracta (ou não) que incorre de uma perceção recente daquilo que me tem vindo a acompanhar ao longo dos últimos tempos. Mas este é um blog que visa o 'desporto-rei' e é aí que eu pretendo chegar, desde a primeira palavra deste texto. No futebol, a beleza do meio e do jogo em si está no desconhecimento. Em 90 minutos, ninguém tem a sabedoria prévia que permita afirmar com 100% de certezas que "a equipa "X" vai vencer a equipa "Y" por 2-0". Mas o telespectador, o adepto que está na bancada, o treinador e o próprio jogador estão ali, em simbiose num "ecossistema" à procura daquilo que responderá às suas questões: o resultado final. Porque no fim, é isso que conta realmente. Os dados estatísticos assumem um papel importantíssimo para os estudiosos, mas em valor "líquido", são os dígitos que o placard do estádio assinala que contam. Se escolhermos uma perspectiva concreta, sabemos que daqui a cerca de uma hora, Barcelona e Chelsea vão entrar em campo com um lugar na final da Liga dos Campeões em jogo. Amanhã, Real Madrid e Bayern fazem o mesmo. E em ambas as situações, os teoricamente favoritos partem em desvantagem. "E esta, hein?"
 Altura para a entrada dos protagonistas, que vão escrever as linhas da história que vai ficar gravada nos documentos e completar a que já está escrita. São onze de cada lado, um "mentor" em cada banco e a bola a rolar no relvado. Mas cada equipa tem o seu actor principal. Cada bancada tem o seu foco. Aquele em quem depositam grande parte das esperanças. Em Espanha estão dois semi-deuses: Cristiano Ronaldo, vestido de branco e Lionel Messi, de azul e grená. Na Alemanha e Inglaterra, dois seres humanos que aspiram à divindade e à imortalidade por ela concedida: Ribéry e Drogba. Um ponto em comum entre os quatro: ambição imensurável, alimentada por tudo aquilo que já conquistaram e pela promessa do que podem ainda conquistar.
 Porque mais do que ganhar a 'Champions' para os seus clubes, eles vivem com e no desejo de subirem ao Olimpo do futebol. Serem maiores do que aqueles que os antecederam e, quem sabe, dos que estão por vir. Querem chegar além do que a imaginação lhes permite conceber. Querem construir o seu próprio caminho e percorrê-lo, integrados na mesma conjuntura. Chelsea x Bayern em Munique? Barça x Real? Para já não sabemos. Mas sejamos honestos: queremos sabê-lo antes de amanhã?

Ribéry e Ronaldo - um humano e um semi-deus movidos pela mesma força: ambição

quinta-feira, 15 de março de 2012

Oitavos-de-final da Liga Europa (2ª mão): Manchester City 3-2 Sporting CP - "Coração de leão!"

 É mesmo verdade. O Sporting eliminou o milionário e todo-poderoso Manchester City nos oitavos-de-final da Liga Europa, em pleno Etihad Stadium. Um orgulho para todos os adeptos leoninos, mas também para Portugal, que, com esta vitória, assegura praticamente o 5º lugar no ranking da UEFA, à frente da França. Mas o apuramento do Sporting não foi um mar de rosas. Aliás, como o resultado final demonstra, os 'leões' saíram de Manchester com uma derrota na bagagem, mas com a qualificação para os "quartos" garantida, graças à maior quantidade de golos marcados fora de casa (o resultado final das duas mãos traduziu-se num 3-3). Agora, já não há adversários fáceis (o City nunca o foi), mas com a alma e garra que os jogadores denotaram não há espaço para limites nas hostes 'verdes-e-brancas'.
 Os anfitriões entraram com vontade de marcar um golo cedo, de modo a igualar a eliminatória e construir um jogo mais pensado e paciente, e até aos 20 minutos, por intermédio de Kolarov e Yaya Touré, tentaram construir jogadas de ataque perigosas para a baliza de Patrício, mas a defesa do Sporting deu boa conta do recado. A partir daí, a pressão sportinguista aumentou e à imagem do que se viu uma semana antes em Alvalade, Matías Fernández, Izmailov e a asa esquerda do Sporting deram que fazer a Savic, Touré e companhia. Aos 33 minutos, depois de uma falta claríssima de Balotelli sobre Insúa, Matías Fernández colocou a turma de Ricardo Sá Pinto em vantagem, com um pontapé livre irrepreensível que Joe Hart foi incapaz de travar. O Manchester City acusou o golo sofrido e os "armadores" de jogo bloquearam; David Silva, Adam Johnson e Aguero mostraram-se impotentes face à oposição da estrutura defensiva bem organizada da equipa portuguesa. Tanto foi que, antes do final da primeira parte, aos 40 minutos, Van Wolfswinkel ampliou o resultado para 0-2 (3-0 no total da eliminatória), servido por Izmailov, após um bom trabalho do russo.
 A segunda parte trouxe um Manchester City de cara lavada. Os 'citizens', já com Nigel de Jong em campo, assumiram o domínio da partida e Yaya Touré e Kun Aguero "engataram" para uma etapa complementar de alto nível, criando grandes dificuldades ao corredor central do Sporting. Como se diz na gíria, "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" e aos 60 minutos, Aguero, num espaço muito reduzido, relançou a eliminatória ao apontar o primeiro tento da sua equipa. Sá Pinto não hesitou e mexeu. Fez entrar Renato Neto para o lugar de Matías (com o intento de conferir mais músculo e capacidade defensiva ao meio-campo) e Jeffrén na vez de Capel (para encostar os laterias do City mais atrás). Mas o esquadrão de Mancini não abrandou. Com Daniel Carriço em dificuldades para travar os criativos adversários, Aguero serpenteou por entre Insúa e Polga e Renato Neto recorreu à falta para travar o argentino. Grande penalidade assinalada, que Balotelli converteu com muita classe, aos 75 minutos. O Sporting resguardou-se ainda mais, mas na sequência de um pontapé de canto, 'El Kun' Aguero (quem mais?), livre de marcação, fez o 3-2. Os ânimos serenaram. O Sporting fez voltar a maturidade inicial e Jeffrén, Carrillo (substituiu Wolfswinkel) e o 'czar' Izmailov assumiram uma importância preponderante ao serem capazes de segurar a bola nos últimos trinta metros do reduto defensivo da equipa da casa. No último lance do jogo, o guarda-redes Joe Hart subiu à grande-área do Sporting, cabeceou pressionado por Rui Patrício e a bola saiu pela linha final a rasar o poste. O árbitro norueguês Tom Hagen apitou pela última vez aos 90+5'.
 O Sporting sofreu, muito provavelmente, a derrota mais saborosa da sua história. Conseguiu colocar os milhões do Manchester City num patamar inferior à garra da equipa. Foi uma vitória do suor, da paixão e da vontade. Com o orgulho e sofrimento dos jogadores e a mão de Sá Pinto. Uma vitória com coração. De leão!

'Matigol' marcou de pontapé livre e deixou Mancini à beira de um ataque de nervos

Os jogadores do Manchester City:

Joe Hart - 6
Micah Richards - 5
Kolo Touré (capitão) - 5
Savic - 4
Kolarov - 7
David Pizarro - 6 (Dzeko 55' - 6)
Yaya Touré - 7
Adam Johnson - 4 (Nigel de Jong 46' - 6)
David Silva - 4 (Nasri 66' - 4)
Kun Aguero - 7
Balotelli - 5

Treinador: Roberto Mancini; Táctica: 4x2x3x1

Os jogadores do Sporting CP:

Rui Patrício - 7
Pereirinha - 6
Xandão - 7
Anderson Polga (capitão) - 7
Insúa - 7
Daniel Carriço - 5
Schaars - 6
Matías Fernández - 7 (Renato Neto 64' - 5)
Izmailov - 8 (MVP da partida)
Diego Capel - 5 (Jeffrén 64' - 6)
Van Wolfswinkel - 6 (Carrillo 68' - 5)

Treinador: Ricardo Sá Pinto; Táctica: 4x3x3

O árbitro: Tom Harald Hagen - 7

MVP da partida: Marat Izmailov (Nota 8)

Mestres da táctica #1 - Herbert Chapman


Nome: Herbert Chapman
Data de nascimento: 19/01/1878
Data de falecimento: 06/01/1934
Naturalidade: Kiveton Park, Inglaterra
Clubes treinados: Northampton Town, Leeds City, Huddersfield Town, Arsenal FC
Títulos: 4 Ligas inglesas

 Herbert Chapman foi o primeiro grande treinador de futebol, o homem que moldou e definiu esse papel para toda uma geração. A sua carreira de jogador começou no final do século XIX. Tornou-se profissional em 1901 no Northampton Town, antes de se mudar para o Notts County e depois para o Tottenham. Em 1907 ocupou o cargo de treinador no Northampton, viajando para norte em 1912, actuando como secretário de um clube entretanto desaparecido, o Leeds City. Com Chapman, o clube alcançou os seus melhores resultados de sempre no campeonato. Em 1919, a instituição foi excluída da Liga de Futebol por ter pago aos jogadores durante a Primeira Grande Guerra, o que era ilegal. Chapman foi temporariamente suspenso, mas voltou ao activo em 1921, no Huddersfield e ganhou dois campeonatos. Em 1925 chegou ao Arsenal, que transformou na equipa da moda em Inglaterra no período entre as duas Grandes Guerras. No terreno, introduziu inovações no jogo, criando o famoso sistema W-M (um upgrade da táctica que Hugo Meisl usou no "Wunderteam" austríaco), exigindo iluminação nos estádios, bolas brancas e camisolas numeradas. Fora do campo, encarregou-se de treinar, fazer tácticas e até de administração local de um modo como nunca nenhum treinador fizera até então. Conseguiu até que as autoridades mudassem o nome da paragem de metro mais próxima para "Arsenal". Morreu a meio da temporada de 1934, quando os 'gunners' caminhavam em direcção ao terceiro título título sob a sua alçada.

segunda-feira, 12 de março de 2012

A Roma e o fim do 'catenaccio'

 O futebol é uma ciência em constante metamorfose. As suas directrizes são alteradas face às exigências do jogo e ao estilo futebolístico do seu habitat. Nuns países, as equipas adoptam estratégias de posse e domínio de sectores ao longo dos noventa minutos. Outras jogam nos espaços e em velocidade (Inglaterra é o melhor exemplo). Outros defendem. Defendem, defendem e defendem. Esperam pela abertura de um espaço, por mais ínfimo que seja e lançam de imediato o contra-ataque. É em Itália que isto se vê. O tão famoso 'catenaccio'.
 Quando nos anos 60, o mítico Helenio Herrera adoptou este sistema tão eficaz como controverso no "seu" Inter de Milão, mal sabia que estava a definir um modelo de jogo que subsistiria na esfera do conhecimento do desporto-rei nas décadas vindouras. Mais tarde, Cesare Maldini e Giovanni Trapattoni seguiram os passos do argentino e aplicaram com sucesso este sistema, com base numa linha defensiva organizada ao máximo.
 Mas nos últimos anos, com as polémicas criadas em redor de sistemas ultra-defensivos usados por equipas ditas "pequenas" e o "anti-jogo" que advém deste modelo abriram-se as portas às críticas assertivas e ao abandono gradual dos princípios de Herrera. A chegada de jogadores jovens e virtuosos ao campeonato italiano, provenientes do Brasil, Argentina e outros pontos onde o que impera é a anarquia táctica e o "joga bonito" veio anunciar o princípio do fim do 'catenaccio'. E este ano pode marcar o seu desfecho definitivo.
 No defeso desta temporada aterrou em Roma um profeta do 'tiki-taka'. Luis Enrique, ex-treinador da equipa B do Barcelona trouxe consigo uma mão cheia de reforços, representativos de bom futebol: Bojan, Osvaldo, Lamela, Pjanic e Borini, os mais sonantes. O objectivo de Enrique era juntar o talento destes jovens com a experiência de "homens da casa", como Totti, De Rossi e Perrotta, para formar um esquadrão à imagem do Barcelona de Guardiola. Mas, ao implementar o estilo de "corte & costura" do Barça, o treinador da AS Roma não estaria somente a mudar a sua equipa. Estaria a implementar uma nova concepção do futebol em Itália. 

Luis Enrique chegou à Roma e mudou por completo a filosofia de jogo da equipa
 Neste momento, não há registos da marca do 'catenaccio' nos jogos do clube da capital. Há um 4x3x1x2 ofensivo, com um guarda-redes seguríssimo (Stekelenburg) e uma defesa rodada, com laterais de propensão atacante assumida (Rosi e José Ángel). Os centrais, Heinze e Juan fazem da experiência a principal arma. Mais à frente, surgem as chaves da equipa. A linha de três jogadores do meio-campo, que se adapta às exigências de cada partida. De Rossi aparece como elemento mais fixo, o vértice mais recuado do trio e um dos capitães de equipa. Como médios-interiores, Pjanic e Gago. Pjanic tem tendência a descair para o meio, em apoio aos homens mais avançados da equipa (em condições normais Totti ou Bojan a apoiar Osvaldo ou Borini) e Gago, ao estilo de uma formiga, a trabalhar nas compensações defensivas, mas em simultâneo a tirar partido da sua capacidade de sair a jogar (aspecto que melhorou com o novo treinador, já que Mourinho raramente o utilizava no Real Madrid, onde actuava como trinco puro). Esta linha de três funciona como um tridente de escudeiros que resguarda o talento argentino Erik Lamela, que sem preocupações defensivas pode explanar o seu talento e virtuosismo na hora de decidir o último passe.
 A Roma não é a pioneira do 'tiki-taka', mas tornou-se na primeira equipa italiana a soltar-se definitivamente das amarras do modelo ultra-defensivo que o 'catenaccio' define. Como já aconteceu no passado, mais equipas seguiram os novos princípios apresentados e adivinha-se uma revolução nas profundezas da táctica do futebol moderno. A era do 'catenaccio' está no seu fim. Chegou o futebol apoiado e de toque curto. O 'tiki-taka' encontra o seu caminho em Itália.

domingo, 11 de março de 2012

O estranho caso de Fernando Torres

 Há os jogadores que são eclipsados e aqueles que se eclipsam. Os primeiros são de um tipo bastante comum e que já ostentam consigo esse rótulo. São aqueles futebolistas que brilham em equipas de segundo plano, que fazem as delícias dos adeptos e que marcam oito ou nove golos por temporada, tornando-se nos principais responsáveis pela manutenção do clube na primeira divisão ou pela ida a uma competição europeia. Exemplos? Kléber, Makukula e Michael Owen. O primeiro foi transferido do Marítimo para o FC Porto para ser a sombra de Falcao, mas, quando este último fez as malas para Madrid, viu-se obrigado a assumir as despesas da finalização na casa ‘azul-e-branca’, sem sucesso. Makukula foi do mesmo clube insular para o Benfica e seis meses depois estava na Turquia. Já Owen, assinou pelo Manchester United após vários anos a desfeitear guarda-redes em St. James Park. Desapareceram do mapa e agora estão na sombra de estrelas mais cintilantes (Janko, Cardozo e Nuno Gomes (na altura) e Rooney, Welbeck e Chicharito). No fundo, trocaram carinho por contas bancárias mais recheadas e as suas carreiras estagnaram e, com elas, projectos futuros foram eclipsados.
 Depois há os do segundo tipo. Normalmente, são contratados a peso de ouro por equipas de topo para serem a referência ofensiva da equipa, a máquina de fazer golos. Deles se esperam proezas nunca antes vistas e o reviver de glórias há muito esquecidas. Mas, o inesperado acontece: o seu rendimento roça o zero e os golos não surgem. Assim sucedeu com Luís Fabiano no Porto, Podolski no Bayern de Munique e agora acontece com ‘El Niño’ Fernando Torres no Chelsea. Quais as razões para este eclipse super-mediático? Não é um assunto que possa ser discutido de forma linear, e há muitos estudos e opiniões distintas para explicar o caso do espanhol, mas há dois ou três factores que pretendo explorar, que julgo serem a base para a falta de golos de um jogador que custou 56 milhões de euros aos cofres de Roman Abramovich.
Abramovich não foi feliz na contratação de 'El Niño'
 Observando as estatísticas, são 50 jogos de Torres pelos ‘blues’ (desde Janeiro de 2011), distribuídos pelas várias competições, e 5 golos marcados, sob a alçada de três treinadores diferentes (Carlo Ancelotti, André Villas-Boas e agora Roberto Di Matteo). Isto resulta numa média de um golo a cada dez jogos! Números inaceitáveis para um ponta-de-lança titular na selecção campeã da Europa e do Mundo e de reconhecida classe planetária. Quando ‘El Niño’ abandonou Anfield Road com o propósito de enriquecer o seu palmarés com as cores do Chelsea, já sabia à partida que a concorrência ia ser de peso. Drogba, Anelka e Kalou eram já nomes consagrados no balneário de Stamford Bridge e Torres teria que trabalhar a dobrar para conquistar um lugar no onze londrino. Esse obstáculo foi rapidamente ultrapassado, já que Ancelotti não hesitou em dar logo a titularidade ao reforço. Em contrapartida, o problema pode efectivamente ter começado aqui. A pressão resultante da obrigação de ter que fazer golos e de igualar os registos de Didier Drogba, principalmente. Um jogo sem marcar e as exigentes bancadas começaram a assobiar o jogador. Dois jogos e a sua cabeça estava já a prémio. No balneário, a desconfiança cresceu e, como não é segredo para ninguém, as “vacas sagradas” do Chelsea (John Terry, Lampard e Drogba) começaram a expôr o seu desconforto face à posição de Fernando Torres no plantel e à relação inversa entre o seu estatuto e rendimento. Ora, este ‘cocktail’ de emoções e novas realidades foi algo que o espanhol de 27 anos nunca tinha experienciado. Tanto no Atlético de Madrid como no Liverpool, Torres foi sempre tratado como o ‘wonderboy’ e a paciência dos adeptos para com ele era inesgotável. No Chelsea isso teve um fim. A margem de erro era mínima, face à fortuna paga pelo seu passe e nem a saída de Anelka para a China veio melhorar a situação.
Torres ainda não encontrou no Chelsea a fórmula de sucesso que o fez brilhar em Liverpool
 Hoje, a maré de azar continua, e a solução ainda não foi encontrada. Quando André Villas-Boas ainda estava no Chelsea sugeriu-se a transferência de Fernando Torres para o Atlético de Madrid, em troca de Falcao, mas agora, com o português despedido, essa parece ser uma hipótese remota. Algo tem de ser feito, sob pena do futebol perder um dos mais brilhantes avançados da actualidade. E com o Europeu à porta, a situação de Torres não se avizinha fácil. Perder um grande torneio é uma multa pesada para um jogador deste calibre. A ver vamos…

sábado, 10 de março de 2012

O FC Porto em três nomes: Maicon, Fernando e James

 Esta publicação, que marca o regresso ao activo do blog, podia ter outro título. Podia falar do regresso de Lucho González à casa onde tanto o estimam, ou da complementaridade que Janko veio trazer ao modelo de jogo dos campeões nacionais, mas não. Vou antes focar-me em três caras já bem conhecidas da massa adepta portista e do futebol português. São três jogadores que atravessam um excelente período de forma e que têm contribuído directamente para as mais recentes vitórias do FC Porto. Maicon, Fernando e James Rodríguez. Cada qual na sua posição, a desempenhar as suas funções veementemente e de forma irrepreensível.
 Começando por Maicon, o mais recuado, confirmou no jogo da Luz aquilo que já se suspeitava: em forma, é um central de respeito. Vítor Pereira viu no brasileiro uma solução adaptada para a lateral-direita, mas, mesmo sem comprometer, o jogador que veio do Nacional mostrou que é no eixo que se sente confortável. A velocidade e precisão na hora de cortar a bola são mais-valias imprescindíveis numa altura em que Rolando e Otamendi enfrentam uma ligeira crise existencial e não se mostram donos das capacidades que já mostraram e lhes são reconhecidas. Assim, Maicon afirma-se como o defesa em melhor forma dos 'dragões', o central da moda, cujo cabeceamento (em posição irregular) que levou como diracção as redes de Artur Moraes abriu as portas do título para o FC Porto.

Maicon faz da velocidade uma das suas principais armas na hora de defender

 Mais à frente de Maicon está Fernando. 'O Polvo', como é conhecido, assumiu-se como a chave-mestra do FCP durante a acção defensiva. O "tampão" da equipa, aquela carraça que não deixa o adversário respirar e iniciar uma jogada de contra-ataque apoiada. Quando no início da temporada passou por um período de menor fulgor, foram várias as vozes que vaticinaram o fim da linha para o futebolista no clube da 'Invicta', mas com o passar do tempo, as exibições consistentes regressaram e com ela a confiança que faltava. É em Fernando que assenta todo o modelo defensivo do Porto. A zona central do campo parece ficar cheia com o pulmão do brasileiro. É a jogar sozinho, como vértice mais recuado do triângulo do meio-campo do 4x3x3 de Vítor Pereira que Fernando explana todas as suas faculdades. Quando o treinador colocou Moutinho perto do seu raio de acção, derivado da necessidade de reforçar o "miolo" em compensação da pouca ajuda defensiva dada por Hulk e companhia (entenda-se Varela, Defour, etc.), Fernando sentiu-se mais preso a um lado do campo e, consequentemente, mais limitado. Lucho chegou entretanto e Fernando voltou a ser dono e senhor do seu território. 'El Comandante' precisa de um companheiro a jogar perto de si, para executar o seu jogo rendilhado, feito à base de tabelinhas e o escolhido para esse papel foi João Moutinho, que voltou a adiantar-se no terreno, libertando Fernando das amarras impostas anteriormente. O único defeito de Fernando está na hora de distribuir jogo, algo que ainda pode ser melhorado, e que já foi bem mais gritante (antes de Fernando, havia Paulo Assunção, que era exímio neste domínio).
 Depois da entrega defensiva tem que haver espaço para a fantasia e técnica. Porque como já disse Luís Freitas Lobo, "a táctica empata jogos, a técnica ganha-os". E é para esse fim que existem jogadores como James Rodríguez. Diamante em bruto colombiano, descoberto no Banfield da Argentina há quase dois anos. Assume-se cada vez mais como um dos activos mais valiosos e preponderantes na casa 'azul-e-branca'. Todo o jogador é um poço de imaginação e a bola parece sair sempre redonda dos seus pés. Há até quem já lhe aponte características sobre-humanas (chegar a Lisboa de manhã, após um vôo de nove horas e marcar um golo (e uma assistência) no reduto do Benfica é obra)... Mas James é bem terreno e felizmente joga em Portugal. Habitualmente encostado à esquerda, esta época tem-se destacado pela finalização (leva 11 golos na Liga) e pela classe que destila quando flecte para o meio, actuando quase como '10'. É uma das principais "nuances" e vantagens tácticas de que o FC Porto dispõe este ano: como Álvaro Pereira sobe muito, James tem tendência a fazer diagonais e a descobrir espaços na outra ala e na grande área, libertando o flanco esquerdo para Álvaro cruzar a bola para zona de perigo. A grande questão que se coloca é o porquê do treinador colocar James no banco em grande parte dos jogos, em detrimento de Varela ou Djalma. Se está cansado, é uma coisa, mas quando em grande forma não há que hesitar...
 Portanto, em jeito de conclusão, é nestes três jogadores que está o presente (e mesmo o futuro) da equipa do FC Porto. Eles são o reflexo da subida de forma colectiva registada no último mês e meio e, aliando-os à força de Hulk, finalização de Janko, velocidade de Álvaro Pereira e classe de Moutinho e Lucho, são eles que podem levar o Dragão uma vez mais à vitória do campeonato. Provavelmente...

James marcou na Luz e ainda assistiu Maicon no terceiro golo do FCP

quinta-feira, 28 de julho de 2011

3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões: Benfica 2-0 Trabzonspor - "Em castelhano nos entendemos!"

 A frase do título deste post bem poderia ter sido dita por qualquer jogador do Benfica que ontem alinhou e contribuiu para a primeira (e importante) vitória das 'águias' na sua caminhada europeia. Apesar da desconfiança inicial que pairava sobre a falta de rotinas da defesa encarnada, o verdadeiro estado de espírito do capitão Luisão e o próprio adversário (quer se queira, quer não, o Trabzonspor é pouco conhecido na "Europa do futebol"), a turma de Jorge Jesus manteve-se firme e, no seu Estádio da Luz, construiu uma vantagem confortável de dois golos para o jogo da segunda mão, na Turquia, obrigando o Trabzonspor a abrir-se mais, na tentativa de apontar um tento que devolva esperança, aproveitando assim as fragilidades defensivas que daí resultarão.
 A partida de ontem em si começou com um arranque forte do Benfica, empurrados pelo apoio do público e por algumas fragilidades defensivas provenientes da falta de velocidade da linha mais recuada do Trabzonspor (com a ajuda do guarda-redes Tolga, que parecia completamente alheio ao jogo, no início). Gaitán quase marcou num chapéu espontâneo, Luisão cabeceou muito perto do poste na sequência de um pontapé de canto e houve uma grande penalidade que ficou por assinalar sobre Cardozo. A partir dos 20 minutos e até ao intervalo, o jogo começou a "esfriar" e a ficar mais repartido, e a equipa turca conseguiu inclusivé um lance de clara oportunidade de golo por Adrian Mierzejwski, (mal) anulado pelo árbitro da partida, o suíço Stephan Studer (exibição fraca). Emerson destacou-se neste período, não pela desenvoltura ofensiva, mas pela importância na manobra defensiva, dobrando bem Garay e contribuindo com alguns cortes importantes. A segunda parte começou como acabou a primeira, equilibrada, com Artur Moraes a resolver duas situações de ligeira aflição na defesa benfiquista, mostrando não estar intimidado pela chegada de Eduardo ao clube. O Benfica começou a carregar mais e Saviola disparou ao poste da baliza de Tolga, a passe de Aimar (66 minutos). Pouco depois (71 minutos), Nolito, recém-entrado, recebeu a bola do lado esquerdo do ataque encarnado, combinou com Pablo Aimar e atirou a contar, num golo de belo efeito, colocando o Benfica em vantagem na eliminatória. A pressão ofensiva continuou, Luisão e Garay mostraram-se intransponíveis, mais um 'penalty' por assinalar a favor da equipa da casa, Maxi Pereira rendeu o esgotado Rúben Amorim, cumprindo com mais do que se lhe exigia (vinha de uma viagem de 12 horas do Uruguai até Lisboa), e Gaitán, após recuperação de Witsel (este, a par de Nolito e Emerson, já mostrou que é reforço), num remate colocado e espetacular, fez o segundo golo da noite, escancarando as portas de acesso ao 'play-off' de apuramento para o Benfica.
 Concluindo, a defesa surgiu bem sólida com Garay e Emerson em destaque, Luisão provou (de novo) ser um excelente profissional, colocando a equipa à frente dos seus interesses pessoais, Gaitán é cada vez mais uma estrela neste Benfica e Nolito é um jogador 'à Barça', fazendo lembrar o também 'canterano' Pedro Rodríguez nos seus movimentos. O Trabzonspor mostrou ser uma equipa sem grandes argumentos para derrubar esta "armada" lisboeta e apenas Gustavo Colman mostrou estar ao nível exigido nesta competição. Com Aimar, Gaitán e Nolito no comando (em castelhano, pois claro!), o Benfica está com um pé na próxima fase da "rota dos milhões".

Enzo Pérez mostrou-se esforçado no primeiro tempo, mas acabou por sair tocado

Os jogadores do Benfica:

Artur Moraes - 6 (classificação A Táctica do Autocarro)
Rúben Amorim - 6 (Maxi Pereira 65' - 6)
Luisão (capitão) - 6
Garay - 7
Emerson - 6
Javi García - 6
Enzo Pérez - 5 (Nolito 54' - 7)
Gaitán (MVP da partida) - 7
Aimar - 6 (Witsel 74' - 5)
Saviola - 6
Cardozo - 4

Treinador: Jorge Jesus; Táctica: 4x1x3x2

Os jogadores do Trabzonspor:

Tolga (capitão) - 4
Serkan Balçi - 4
Glowacki - 5
Giray Kaçar - 4
Celustka - 5
Zokora - 6
Gustavo Colman - 7
Burak Yilmaz - 5
Alanzinho - 4 (Akgun 68' - 3)
Adrian Mierzejwski - 6 (Pawel Brozek 85' - sem elementos de classificação)
Paulo Henrique - 5

Treinador: Senol Gunes; Táctica: 4x2x3x1

O árbitro: Stephan Studer - 3

MVP da partida: Nicolás Gaitán (Nota 7)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sons da bola #1

 Hoje, na nova rúbrica do blog intitulada 'Sons da bola', fica uma canção criada e interpretada pelo cantor francês Manu Chao, La Vida Tombola, que tem como tema o astro do futebol, 'El Pibe' Diego Armando Maradona.



Letra:

Si yo fuera Maradona
Viviria como el
Si yo fuera Maradona
Frente a cualquier porteria
Si yo fuera Maradona
Nunca m'equivocaria
Si yo fuera Maradona
Perdido en cualquier lugar

La vida es uns tómbola
De noche y de dia
La vida es una tombola
Y arriba y arriba!

Si yo fuera Maradona
Viviria como el
Mil cohetes, mil amigos
Y lo que venga a mil por cien
Si yo fuera Maradona
Saldria en mondovision
Para gritarle a la FIFA
Que ellos son el gran ladron!

La vida es uns tómbola
De noche y de dia
La vida es una tómbola
Y arriba y arriba!

Si yo fuera Maradona
Viviria como el
Porque el mundo es una bola
Que se vive a flor de piel

Si yo fuera Maradona
Frente a cualquier porqueria
Nunca me equivocaria...

Si yo fuera Maradona
Y un partido que ganar
Si yo fuera Maradona
Y una mano en el altar.

La vida es uns tómbola
De noche y de dia
La vida es una tómbola
Y arriba y arriba!