A essência da vida prende-se com a descoberta. Não saber para onde caminhamos, com quem vamos percorrer esse caminho hipotético e que desventuras vão marcar a nossa caminhada constituem as chaves fundamentais do sentido da nossa existência. O seu sentido concreto ainda não foi descoberto, nem será. Está muito para além da vontade, da compreensão e do conhecimento do ser humano. A ambição de o descobrir surge naturalmente no pensamento, mas eu diria que será correcto não a alimentar. Porque no dia em que a ambição ultrapassar o limite da racionalidade não serão encontradas respostas, mas sim um vazio, e aí, a existência deixará de fazer sentido. A ambição deve estar sempre presente, como complemento ao nosso quotidiano, mas para ser integrada na personalidade de cada um. E "cada um" é uma ínfima fração da conjuntura que é o Universo. Sermos nós próprios no Universo, ambicionarmos a mais e melhor para nós e para os outros, sem nunca perder a noção de individualidade, pois o meu indivíduo interior é o motor que me faz continuar a ter vontade de existir e sem ele não me vou sentir integrado na conjuntura; sem ele, sou um peso morto, amorfo, sem nada que me defina e perdido na diferença que os outros marcam ou vão marcando.
Acima está um desabafo de índole abstracta (ou não) que incorre de uma perceção recente daquilo que me tem vindo a acompanhar ao longo dos últimos tempos. Mas este é um blog que visa o 'desporto-rei' e é aí que eu pretendo chegar, desde a primeira palavra deste texto. No futebol, a beleza do meio e do jogo em si está no desconhecimento. Em 90 minutos, ninguém tem a sabedoria prévia que permita afirmar com 100% de certezas que "a equipa "X" vai vencer a equipa "Y" por 2-0". Mas o telespectador, o adepto que está na bancada, o treinador e o próprio jogador estão ali, em simbiose num "ecossistema" à procura daquilo que responderá às suas questões: o resultado final. Porque no fim, é isso que conta realmente. Os dados estatísticos assumem um papel importantíssimo para os estudiosos, mas em valor "líquido", são os dígitos que o placard do estádio assinala que contam. Se escolhermos uma perspectiva concreta, sabemos que daqui a cerca de uma hora, Barcelona e Chelsea vão entrar em campo com um lugar na final da Liga dos Campeões em jogo. Amanhã, Real Madrid e Bayern fazem o mesmo. E em ambas as situações, os teoricamente favoritos partem em desvantagem. "E esta, hein?"
Altura para a entrada dos protagonistas, que vão escrever as linhas da história que vai ficar gravada nos documentos e completar a que já está escrita. São onze de cada lado, um "mentor" em cada banco e a bola a rolar no relvado. Mas cada equipa tem o seu actor principal. Cada bancada tem o seu foco. Aquele em quem depositam grande parte das esperanças. Em Espanha estão dois semi-deuses: Cristiano Ronaldo, vestido de branco e Lionel Messi, de azul e grená. Na Alemanha e Inglaterra, dois seres humanos que aspiram à divindade e à imortalidade por ela concedida: Ribéry e Drogba. Um ponto em comum entre os quatro: ambição imensurável, alimentada por tudo aquilo que já conquistaram e pela promessa do que podem ainda conquistar.
Porque mais do que ganhar a 'Champions' para os seus clubes, eles vivem com e no desejo de subirem ao Olimpo do futebol. Serem maiores do que aqueles que os antecederam e, quem sabe, dos que estão por vir. Querem chegar além do que a imaginação lhes permite conceber. Querem construir o seu próprio caminho e percorrê-lo, integrados na mesma conjuntura. Chelsea x Bayern em Munique? Barça x Real? Para já não sabemos. Mas sejamos honestos: queremos sabê-lo antes de amanhã?
![]() |
Ribéry e Ronaldo - um humano e um semi-deus movidos pela mesma força: ambição |